Toneladas de plástico se acumulam em região onde moram 220 mil famílias. Governo pretende realocar pessoas.
Com vistas para um mar cor de chumbo e inundado em plástico, mais 220 mil famílias vivem em assentamentos irregulares ao longo da Baía de Manila, cuja reabilitação começou em janeiro. Suas águas são as mais poluídas da Filipinas.
Imagem de setembro de 2018 mostra voluntários recolhendo plástico da Baía de Manila — Foto: REUTERS/Eloisa Lopez
Embalagens de comida, recipientes de plástico, cabos, CDS, pneus desgastados e sapatos velhos são vistos boiando na baía e se acumulam em montanhas de resíduos em assentamentos ilegais da capital como Baseco, uma região de periferia onde vivem aproximadamente 10 mil famílias.
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Entre o ninho de parasitas e bactérias que habitam no lixo, Marieta Visina, de 59 anos, recolhe algumas latas, que vende para reciclagem, e procura cabos, que queima para extrair o arame de cobre que é vendido por 110 pesos o quilo (cerca de US$ 2). Visina explica à Agência Efe que com essa atividade ganha cerca de 700 pesos (US$ 14) por semana, que gasta para alimentar os 14 filhos e netos que vivem com ela em seu barraco de Baseco, embora não saiba por quanto tempo. "Disseram que vão nos realojar quando começar a reabilitação da baía, mas não sabemos nada mais", diz preocupada, enquanto queima lixo nas margens desse mar sujo no qual se banha, embora para beber compre água purificada.
Imagem de setembro de 2018 mostra voluntários recolhendo plástico da Baía de Manila — Foto: REUTERS/Eloisa Lopez
O precário lar de Visina e de outras famílias de Baseco - de onde é possível ver os arranha-céus das zonas mais ricas de Manila - será demolido como parte do plano de limpeza na baía. O Governo desenhou um ambicioso programa de reabilitação dessa zona de 190 quilômetros de costa e 1,7 hectares de superfície na qual através da indústria, da pesca e da navegação é gerado mais da metade do PIB filipino. Com um investimento de US$ 902 milhões, o plano procura recuperar o equilíbrio do meio ambiente da área, atingida pela expansão econômica e populacional da Filipinas, país que não conta com um sistema adequado de gestão de resíduos e nem de reciclagem.
Nesse mar, os níveis de coliformes, uma bactéria fecal que se reproduz na poluição da água, alcançam 330 milhões por cada 100 mililitros, quando os parâmetros adequados deveriam estar em torno de mil. A poluição dessas águas é muito superior aos 47,4 mil coliformes das praias de Boracay, ilha que fechou no ano passado por seis meses ao turismo para salvar seu entorno da massificação e da expansão hoteleira desenfreada. "Querem limpar a baía como Boracay. Me parece bom porque beneficiará nossa saúde, mas e a minha casa?", lamentou Romero Corpus, de 55 anos, outro morador de Baseco.
Imagem de setembro de 2018 mostra voluntários recolhendo plástico da Baía de Manila — Foto: REUTERS/Eloisa Lopez
Famílias deslocadas
Junto com sua esposa e duas filhas, ele comanda uma pequena loja de alimentos, conhecidas na Filipinas como "sari-sari", e seu temor é perder esse meio de vida se sua família for realocada. "A questão é quando e onde. Não posso dizer se é uma boa solução até que não saiba disso", indicou Corpus, que suspeita que a limpeza começará pela parte mais turística da baía, onde estão os hotéis e os restaurantes, e talvez se esqueçam de Baseco.
Dois dias antes do início das tarefas de reabilitação, os moradores do bairro apontam seus dados na lista oficial de gente que poderia ser realojada, embora a maioria não sabe com certeza o que acontecerá com eles. "A minha casa está na lista para ser demolida porque querem alargar a estrada que vai ao porto. Vivi aqui os últimos 41 anos, me parece bom que a baía seja limpa, mas necessito ser realocado", protestou Ronald Diocton, um pescador que captura grande quantidade de plástico cada vez que sai para trabalhar. Os frequentes tufões levam ao litoral de Baseco resíduos plásticos do fundo do oceano, onde se acumulam cerca de oito toneladas anuais, que se somam ao lixo transportado em caminhões desde outros bairros com mais recursos.
Para Alisya Tangayan, de 29 anos, a limpeza é uma boa notícia porque viver rodeados de "água suja e pestilenta" não é o mais são para os seus quatro filhos - um deles recém-nascido -, e assegura que há muito tempo não prova o peixe desse mar. Embora a total reabilitação do entorno da Baía de Manila demore uma década, a intenção do Departamento de Meio Ambiente é reduzir o nível de coliformes para que essas águas sejam aptas para o uso recreativo e turístico no final do ano. Para isso, além de depurar a baía, serão impostas multas para quem jogar lixo nas ruas ou no mar e os estabelecimentos da zona serão obrigados a ter o seu próprio sistema de tratamento de resíduos para não jogar diretamente ao mar.
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